Diogo Lopes, com as largas orelhas pendentes e os olhos semicerrados, como quem dormitava.
A podenga negra, essa corria pelo aposento viva e inquieta, pulando como um diabrete: o pelo liso e macio reluzia-lhe com um reflexo avermelhado.
O barão, depois da saúde urbi et orbi feita aos monteiros, esgotava um quírie comprido de saúdes particulares, e a cada nome uma taça.
Estava como cumpria a um rico-homem ilustre, que nada mais tinha a fazer neste mundo, senão dormir, beber, comer e caçar.
E o alão cabeceava, como um abade velho em seu coro, e a podenga saltava.
O senhor de Biscaia pegou então de um pedaço de osso com sua carne e medula e, atirando-o ao alão, gritou-lhe:
- Silvano, toma lá tu, que és fragueiro: leve o diabo a podenga, que não sabe senão correr e retouçar.
O canzarrão abriu os olhos, rosnou, pôs a pata sobre o osso e, abrindo a boca, mostrou os dentes anavalhados. Era como um rir deslavado.
Mas logo soltou um uivo e caiu, perneando meio morto: a podenga, de um pulo, lhe saltara à garganta, e o alão agonizava.
- Pelas barbas de D. From, meu bisavô! ¬ exclamou D. Diogo, pondo-se em pé trêmulo de cólera e de vinho. - A perra maldita matou-me o melhor alão da matilha; mas juro que hei-de escorchá-la.
E, virando-se com o pé o cão moribundo, mirava as largas feridas do nobre animal, que expirava.
- A la fé que nunca tal vi! Virgem bendita. Aqui anda coisa de Belzebu. - E dizendo e fazendo, benzia-se e persignava-se.
- Ui! ¬ gritou sua mulher, como se a houveram queimado. O barão olhou para ela: viu-a com os olhos brilhantes, as faces negras, a boca torcida e os cabelos eriçados.
E ia-se alevantando, alevantando ao ar, com a pobre Dona Sol sobraçada debaixo do braço esquerdo; o direito estendia-o por cima da mesa para seu filho, D.