Era isso para ela motivo de um orgulho íntimo, que a elevava a seus próprios olhos, e por momentos a fazia esquecer-se que era uma escrava.
- Estou convencida de que sou digna do amor de Álvaro, senão, ele não me amaria; e se sou digna de seu amor, por que não o serei de me apresentar no seio da mais brilhante sociedade? A perversidade dos homens pode acaso destruir o que há de bom e de belo na feitura do Criador?
Assim refletia Isaura, e exaltada com estas ideias e com a sedutora perspectiva de algumas horas de inefável ventura em companhia do amante exclamava dentro d'alma:
- Hei de ir, hei de ir ao baile!
Enquanto Isaura, silenciosa e com a face na mão, se embebia em suas cismas, procurando firmar-se em uma resolução, o pai, não menos inquieto e preocupado, passeava distraído entre os canteiros do jardim, aguardando com ansiedade uma resposta definitiva de sua filha.
- Irei, meu pai, irei ao baile, - disse ela por fim levantando-se, mas vou preparar-me para ele como a vítima que tem de ser conduzida ao sacrifício entre cânticos e flores. Tenho um cruel pressentimento, que me acabrunha...
- Pressentimento de quê, Isaura?...
- Não sei, meu pai; de alguma desgraça.
- Pois quanto a mim, Isaura, o coração como que está-me adivinhando que de ir a esse baile resultará a nossa salvação.