- Ah! toleirões! - exclamou o Martinho, - vocês ainda estão com os beiços com que mamaram. Andem cá, andem, e verão se é maluquice, nem velhacaria. Enfim quero mostrar-lhes o meu jogo, porque desejo ver se a opinião de vocês estará ou não de acordo com a minha. Eis aqui a minha bisca. - concluiu Martinho mostrando um papel, que sacou da algibeira; - não é nada mais que um anúncio de escravo fugido.
- Ah! ah! ah! esta não é má!...
- Que disparate!... decididamente estás louco, meu Martinho. - A que propósito vem agora anúncio de escravo fugido?...
- Foste acaso nomeado oficial de justiça ou capitão-do-mato?
Estas e outras frases escapavam aos mancebos de envolta, em um coro de intermináveis gargalhadas, que competiam com a orquestra do baile.
- Não sei de que tanto se espantam, - replicou frescamente o Martinho; - o que admira é que ainda não vissem este grande anúncio em avulso, que veio do Rio de Janeiro, e foi distribuído por toda a cidade com o jornal do Comércio.
- Porventura somos esbirros ou oficiais de justiça, para nos embaraçarmos com semelhantes anúncios?
- Mas olhem que o negócio é dos mais curiosos, e as alvíssaras não são para se desprezarem.
- Pobre Martinho! quanto pode em teu espírito a ganância de ouro, que faz-te andar à cata de escravos fugidos numa sala de baile!
- Pois é aqui que poderás encontrar semelhante gente?...
- Olé... quem sabe?!... tenho cá meus motivos para desconfiar que por aqui mesmo hei de achá-la, assim como os cinco continhos que, aqui entre nós, vêm agora mesmo ao pintar, pois que o armazém de meu sócio bem pouco tem rendido nestes últimos tempos.
Martinho chamava armazém à pequena taverna de que era sócio.