Ditas aquelas palavras foi postar-se junto à porta que dava para o salão e ali ficou por largo tempo a olhar, ora para os que dançavam, ora para o anúncio, que tinha desdobrado na mão, como quem averigua e confronta os sinais.
- Que diabo faz ali o Martinho? - exclamou um dos mancebos que entretidos com as mímicas do Martinho, tomando-as por palhaçadas, tinham-se esquecido de jogar.
- Está doido, não resta a menor dúvida. - observou outro. - Procurar escravo fugido em uma sala de baile!... Ora não faltava mais nada! Se andasse à cata de alguma princesa, decerto a iria procurar no quilombos.
- Mas talvez seja algum pajem, ou alguma mucama, que por ai anda.
- Não me consta que haja nenhum pajem nem mucama ali dançando, e ele não tira os olhos dos que dançam.
- Deixá-lo; este rapaz, além de ser um vil traficante, sempre foi um maníaco de primeira força.
- É ela! - disse o Martinho, deixando a porta, e voltando-se para seus companheiros; - é ela; já não tenho a menor dúvida; é ela, e está segura.
- Ela quem, Martinho?...
- Ora! pois quem mais há de ser?...
- A escrava fugida?!...
- A escrava fugida, sim, senhores!... e ela está ali dançando.
- Ah! ah! ah! ora, vamos ver mais esta, Martinho!... até onde queres levar a tua farsa? deve ser galante o desfecho. Isto é impagável, e vale mais que quantos bailes há no mundo.
- Se todos eles tivessem um episódio assim, eu não perdia nem um.
- Assim clamavam os moços entre estrondosas gargalhadas.
- Vocês zombam?
- Olhem que a farsa cheira um pouco a tragédia.
- Melhor! Melhor!
- Vamos com isso, Martinho!
- Não acreditam?... pois escutem lá, e depois me dirão que tal é a farsa.
Dizendo isto, Martinho sentou-se em uma cadeira, e desdobrando o anúncio, pôs-se em atitude de lê-lo.