-Deixar como?
- Você verá.
- Foi vendida?...
- Qual vendida!
-Alheada? -Nem isso
- Está forra?...
- Que abelhuda!... Espera, Rosa; tem paciência um pouco, que hoje mesmo talvez você venha a saber tudo.
- Ora ponha-se com mistérios... então o que você sabe os outros não podem saber?...
- Não é mistério, Rosa; é desconfiança minha. Aqui em casa não tarda a haver novidade grossa; vai escutando.
-Ah! ah! - respondeu Rosa galhofando. - Você mesmo está com cara de novidade.
- Psiu!... bico calado, Rosa!... ai vem nhonhô.
Pelo diálogo acima o leitor bem vê, que nos achamos de novo na fazenda de Leôncio, no município de Campos, e na mesma sala, em que no começo desta história encontramos Isaura entoando sua canção favorita.
Cerca de dois meses são decorridos depois que Leôncio fora ao Recife apreender sua escrava. Leôncio e Malvina tinham-se reconciliado, e vindos da corte tinham chegado à fazenda na véspera. Alguns escravos, entre os quais se acham Rosa e André, estão asseando o soalho, arranjando e espanando os móveis daquele rico salão, testemunha impassível dos mistérios da família, de tantas cenas ora tocantes e enlevadoras, ora vergonhosas e sinistras, e que durante a ausência de Malvina se conservara sempre fechado.
Qual é, porém, a sorte de Isaura e de Miguel, desde que deixaram Pernambuco? que destino deu Leôncio ou pretende dar àquela?... por que maneira se reconciliou com sua mulher?
Eis o que passamos a explicar ao leitor, antes de prosseguirmos nesta narrativa.
Leôncio, tendo trazido Isaura para sua fazenda, a conservara na mais completa e rigorosa reclusão. Não era isto só com o fim de castigá-la ou de cevar sua feroz vingança sobre a infeliz cativa.