Sabia quanto era ardente e capaz de extremos o amor que o jovem pernambucano concebera por Isaura; tinha ouvido as últimas palavras que Álvaro lhe dirigia - confia em Deus, e em meu amor; eu não te abandonarei.
- Era uma ameaça, e Álvaro, rico e audacioso como era, dispunha de grandes meios para pô-la em execução, quer por alguma violência, quer por meio de astúcias e insídias. Leôncio, portanto, não só encarcerava com todo o rigor a sua escrava, como também armou todos os seus escravos, que daí em diante distraídos quase completamente dos trabalhos da lavoura, viviam em alerta dia e noite como soldados de guarnição a uma fortaleza. Mas a alma ardente e feroz do jovem fazendeiro não desistia nunca de seu louco amor, e nem perdia a esperança de vencer a isenção de Isaura.
E já não era só o amor ou a sensualidade que o arrastava; era um capricho tirânico, um desejo feroz e satânico de vingar-se dela e do rival preferido. Queria gozá-la, fosse embora por um só dia, e depois de profanada e poluída, entregá-la desdenhosamente ao seu antagonista, dizendo-lhe:
- Venha comprar a sua amante; agora estou disposto a vendê-la, e barato.
Encetou pois contra ela nova campanha de promessas, seduções e protestos, seguidos de ameaças, rigores e tiranias. Leôncio só recuou diante da tortura e da violência brutal, não porque lhe faltasse ferocidade para tanto, mas porque conhecendo a têmpera heróica da virtude de Isaura, compreendeu que com tais meios só conseguiria matá-la, e a morte de Isaura não satisfazia o seu sensualismo, e nem tampouco a sua vingança. Portanto tratou de meditar novos planos, não só para recalcar debaixo dos pés o que ele chamava o orgulho da escrava, como de frustrar e escarnecer completamente as vistas generosas de Álvaro, tomando assim de ambos a mais cabal vingança.