- Aquela é Isaura!... oh!... meu Deus! coitada! - murmurou Malvina ao vê-la, e foi-lhe mister enxugar duas lágrimas, que a seu pesar humedeceram-lhe as pálpebras.
Esteve a ponto de ir implorar clemência a seu esposo em favor da pobrezinha, mas lembrou-se das perversas inclinações e mau comportamento, que Leôncio aleivosamente atribuíra a Isaura, e assentou de revestir-se de toda a impassibilidade que lhe fosse possível.
- Então, Isaura, - disse Malvina com brandura, - já tomaste a tua resolução?... estás decidida a casar com o marido que te queremos dar?
Isaura por única resposta abaixou a cabeça e fitou os olhos no chão.
- Sim, senhora, - respondeu Miguel por ela - Isaura está resolvida a se conformar com a vontade de V. Sª.
- Faz muito bem. Não é possível que ela esteja a sofrer por mais tempo esse cruel tratamento, em que não posso consentir enquanto estiver nesta casa. Não foi para esse fim que sua defunta senhora criou-a com tanto mimo, e deu-lhe tão boa educação. Isaura, apesar de tua descaída, quero-te bem ainda, e não tolerarei mais semelhante escândalo. Vamos dar-te ao mesmo tempo a liberdade e um excelente marido.
- Excelente!... meu Deus! Que escárnio! - refleliu Isaura.
- Belchior é muito bom moço, inofensivo, pacífico e trabalhador; creio que hás de dar-te otimamente com ele. Demais para obter a liberdade nenhum sacrifício é grande, não é assim, Isaura?
- Sem dúvida, minha senhora; já que assim o quer, sujeito-me humildemente ao meu destino. Arrancam-me da masmorra - (continuou Isaura em seu pensamento), - para levarem-me ao suplício.
- Muito bem, Isaura; mostras que és uma rapariga dócil e de juízo. André, vai chamar aqui o senhor Belchior. Quero eu mesma ter o gosto de anunciar-lhe que vai enfim realizar o seu sonho querido de tantos anos.