Creio que o senhor Miguel também não ficará mal satisfeito com o arranjo que damos a sua filha; sempre é alguma coisa sair do cativeiro e casar-se com um homem branco e livre. Antes assim do que fugir, e andar foragida por esse mundo. Isaura, para prova de quanto desejo o teu bem, quero ser madrinha neste casamento, que vai pôr termo a teus sofrimentos, e restabelecer nesta casa a paz e o contentamento, que há muito tempo dela andavam arredados. Ditas estas palavras, Malvina abriu um cofre de jóias, que estava sobre uma mesa, e dele tirou um rico colar de ouro, que foi colocar no pescoço de Isaura.
- Aceita isto, Isaura, - disse ela, - é o meu presente de noivado.
- Agradecida, minha boa senhora, - disse Isaura, e acrescentou em seu coração: - é a corda, que o carrasco vem lançar ao pescoço da vítima.
Neste momento vem entrando Belchior acompanhado por André. - Eis-me aqui, senhora minha, - diz ele, - o que deseja deste seu menor criado?
- Dar-lhe os parabéns, senhor Belchior, - respondeu Malvina.
- Parabéns!... mas eu não sei por quê!...
- Pois eu lhe digo; fique sabendo que Isaura vai ser livre, e... adivinhe o resto.
- E vai-se embora decerto... oh!... é uma desgraça!
- Já vejo que não é bom adivinhador. Isaura está resolvida a casar-se com o senhor.
- Que me diz, patroa!... perdão, não posso acreditar. Vossemecê está zombando comigo.
- Digo-lhe a verdade; ai está ela, que não me deixará mentir. Apronte-se, senhor Belchior, e quanto antes, que amanhã mesmo há de se fazer o casamento aqui mesmo em casa.
- Oh! senhora minha! divindade da Terra! - exclamou Belchior indo-se atirar aos pés de Malvina e procurando beijá-los, - deixe-me beijar esses pés...