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- Entretanto há de permitir que me felicite a mim e ao senhor por tão oportuna visita. A chegada de V. Sª. hoje nesta casa parece um acontecimento auspicioso, e até providencial.
- Sim?!... muito folgo com isso..,.mas não terá V. Sª. a bondade de dizer por quê?...
- Com muito gosto. Saiba que aquela sua protegida, aquela escrava, por quem fez tantos extremos em Pernambuco, vai ser hoje mesmo libertada e casada com um homem de bem. Chegou V. Sª. mesmo a ponto de presenciar com os seus próprios olhos a realização dos filantrópicos desejos, que tinha a respeito da dita escrava, e eu da minha parte muito folgarei se V. Sª. quiser assistir a esse ato, que ainda mais solene se tornará com a sua presença.
- E quem a liberta? - perguntou Álvaro sorrindo-se sardonicamente. - Quem mais senão eu, que sou seu legitimo senhor? - respondeu Leôncio com altiva seguridade.
- Pois declaro-lhe, que o não pode fazer, senhor: - disse Álvaro com firmeza.
- Essa escrava não lhe pertence mais.
- Não me pertence!... - bradou Leôncio levantando-se de um salto, - o senhor delira ou está escarnecendo?...
- Nem uma, nem outra coisa, - respondeu Álvaro com toda a calma: - repito-lhe; essa escrava não lhe pertence mais.
- E quem se atreve a esbulhar-me do direito que tenho sobre ela?
- Os seus credores, senhor, - replicou Álvaro, sempre com a mesma firmeza e sangue-frio.
- Esta fazenda com todos os escravos, esta casa com seus ricos móveis, e sua baixela, nada disto lhe pertence mais; de hoje em diante o senhor não pode dispor aqui nem do mais insignificante objeto. Veja, - continuou mostrando-lhe um maço de papéis, - aqui tenho em minhas mãos toda a sua fortuna.