Atendendo a estas e mil outras considerações de Geraldo, Álvaro procurou firmar o espírito e a vontade no propósito de renunciar ao seu amor, e a todas as suas pretensões filantrópicas sobre Isaura. Foi debalde. Depois de um mês de luta consigo mesmo, de sempre frustradas veleidades de revolta contra os impulsos do coração, Álvaro sentiu-se fraco, e compreendeu que semelhante tentativa era uma luta insensata contra a força onipotente do destino. Embalde procurou, já nas graves ocupações do espírito, já nas distrações frívolas da sociedade, um meio de apagar da lembrança a imagem da gentil cativa. Ela lhe estava sempre presente em todos os sonhos d'alma, ora resplendente de beleza e graça, donosa e sedutora como na noite do baile, ora pálida e abatida, vergada ao peso de seu infortúnio, com os pulsos algemados, cravando nele os olhos suplicantes como que a dizer-lhe:
- Vem, não me abandones; só tu podes quebrar estes ferros que me oprimem.
O espírito de Álvaro firmou-se por fim na íntima e inabalável convicção de que o céu, pondo em contato o seu destino com o daquela encantadora e infeliz escrava, tivera um desígnio providencial, e o escolhera para instrumento da nobre e generosa missão de arrebatá-la à escravidão, e dar-lhe na sociedade o elevado lugar que por sua beleza, virtudes e talentos, lhe competia.
Resolveu-se portanto, fosse qual fosse o resultado, a prosseguir nessa generosa tentativa, com a cegueira do fanatismo, senão com o arrastamento de uma inspiração providencial.
Álvaro partiu para o Rio de Janeiro. Ia ao acaso, sem plano nenhum formado, sem bem saber o que devia fazer para chegar aos seus fins; mas tinha como uma intuição vaga de que o céu lhe depararia ocasião e meios de levar a cabo a sua empresa.