- Meu Deus! - exclamou Isaura com um ligeiro tom de mofa; - tanta grandeza me aterra; isso faria virar-me o juízo. Nada, meu senhor; guarde suas grandezas para quem melhor as merecer; eu por ora estou contente com a minha sorte.
- Isaura!... para que tanta crueldade!... escuta, - disse o moço lançando o braço ao pescoço de Isaura.
- Senhor Henrique! - gritou ela esquivando-se ao abraço, - por quem é, deixe-me em paz!
- Por piedade, Isaura! - insistiu o rapaz continuando a querer abraçá-la; - oh!... não fales tão alto!... um beijo... um beijo só, e já te deixo...
- Se o senhor continua, eu grito mais alto. Não posso aqui trabalhar um momento, que não me venham perturbar com declarações que não devo escutar...
- Oh! como está altaneira! - exclamou Henrique, já um tanto agastado com tanta resistência. - Não lhe falta nada!... tem até os ares desdenhosos de uma grande senhora!... não te arrufes assim, minha princesa...
- Arre lá, senhor! - bradou a escrava já no auge da impaciência. - Já não bastava o senhor Leôncio!... agora vem o senhor também...
- Como?... que estás dizendo?... também Leôncio?... oh!... oh! bem o coração me estava adivinhando!... que infâmia!... mas decerto tu o escutas com menos impaciência, não é assim?
- Tanto como escuto ao senhor.
- Não duvido Isaura; a lealdade, que deves a tua senhora, que tanto te estima, não te permite que dês ouvidos àquele perverso. Mas comigo o caso é diferente; que motivo há para seres cruel assim?
- Eu cruel para com meus senhores!!! Ora, senhor, pelo amor de Deus!... Não esteja assim a escarnecer de uma pobre cativa.
- Não! não escarneço... Isaura!... escuta, - exclamava Henrique forcejando para abraçá-la e furtar-lhe um beijo.
- Bravo!... bravíssimo! - retumbou pelo salão uma voz acompanhada de sardônica e estrepitosa gargalhada.