Henrique voltou-se sobressaltado. Toda a sua amorosa exaltação tinha-se-lhe gelado de súbito no âmago do coração. Leôncio estava em pé no meio da porta, de braços cruzados e olhando para ele com sorriso do mais insultante escárnio.
- Bravo! muito bem, senhor meu cunhado! - continuou Leôncio no mesmo tom de mofa. - Está pondo em prática belissimamente as suas lições de moral!... requestando-me as escravas!... está galante!... sabe respeitar divinamente a casa de sua irmã!...
- Ah! maldito importuno! - murmurou Henrique, trincando os dentes de cólera, e seu primeiro impulso foi investir de punho fechado, e responder com cachações aos insolentes sarcasmos do cunhado.
Refletindo porém um momento, sentiu que lhe seria mais vantajoso empregar contra o seu agressor a mesma arma de que se servira contra ele, o sarcasmo, que as circunstâncias lhe permitiam vibrar de modo vitorioso e decisivo. Acalmou-se, pois, e com sorriso de soberano desdém:
- Ah! perdão, meu cunhado! - disse ele - não sabia que a peregrina jóia do seu salão lhe merecesse tanto cuidado, que o levasse a ponto de andá-la espionando; creio que tem mais zelo por ela do que mesmo pelo respeito que se deve à sua casa e à sua mulher. Pobre de minha irmã!... é bem simples, e admira que, há mais tempo, não tenha conhecido o belo marido que possui!...
- O que estás dizendo, rapaz? - bradou Leôncio com gesto ameaçador; - repete; que estás dizendo?
- O mesmo que o senhor acaba de ouvir, - redarguiu Henrique com firmeza, - e fique certo que o seu indigno procedimento não há de ficar por muito tempo oculto à minha irmã.
- Qual procedimento!? tu deliras, Henrique?...