Veremos em breve de que ralé era esta criança, que tinha o bonito nome de Rosa.
No meio do sussurro das rodas, que giravam, das monótonas cantarolas das fiandeiras, do compasso estrépito do tear, que trabalhava incessantemente, dos guinchos e alaridos das crianças, quem prestasse atento ouvido, escutaria a seguinte conversação, travada timidamente e a meia voz em um grupo de fiandeiras, entre as quais se achava Rosa.
- Minhas camaradas, - dizia a suas vizinhas uma crioula idosa, matreira e sabida em todos os mistérios da casa desde os tempos dos senhores velhos, - agora que sinhô velho morreu, e que sinhá Malvina foi-se embora para a casa de seu pai dela, é que nós vamos ver o que e rigor de cativeiro.
- Como assim, tia Joaquina?!...
- Como assim!... vocês verão. Vocês bem sabem, que sinhô velho não era de brinquedo; pois sim; lá diz o ditado - atrás de mim virá quem bom me fará. - Este sinhô moço Leôncio... hum!... Deus queira que me engane... quer-me parecer que vai-nos fazer ficar com saudade do tempo de sinhô velho...
- Cruz! ave Maria!... não fala assim, tia Joaquina!... então é melhor matar a gente de uma vez...
- Este não quer saber de fiados nem de tecidos, não; e daqui a pouco nós tudo vai pra roça puxar enxada de sol a sol, ou pra o cafezal apanhar café, e o pirai do feitor aí rente atrás de nós. Vocês verão. Ele o que quer é café, e mais café, que é o que dá dinheiro.
- Também, a dizer a verdade, não sei o que será melhor, - observou outra escrava, - se estar na roça trabalhando de enxada, ou aqui pregada na roda, desde que amanhece até nove, dez horas da noite. Quer-me parecer que lã ao menos a gente fica mais à vontade.