- Mais à vontade?!.., que esperança! - exclamou uma terceira. - Antes, aqui, mil vezes! aqui ao menos a gente sempre está livre do maldito feitor.
- Qual, minha gente! - ponderou a velha crioula - tudo é cativeiro. Quem teve a desgraça de nascer cativo de um mau senhor, dê por aqui, dê por acolá, há de penar sempre. Cativeiro é má sina; não foi Deus que botou no mundo semelhante coisa, não; foi invenção do diabo. Não vê o que aconteceu com a pobre Juliana, mãe de Isaura?
- Por falar nisso, - atalhou uma das fiandeiras, - o que fica fazendo agora a Isaura?... enquanto sinhá Malvina estava aí, ela andava de estadão na sala, agora...
- Agora fica fazendo as vezes de sinhá Malvina, - acudiu Rosa com seu sorriso maligno e zombeteiro.
- Cala a boca, menina! - bradou com voz severa a velha crioula. - Deixa dessas falas. Coitada da Isaura. Deus te livre a você de estar na pele daquela pobrezinha! se vocês soubessem quanto penou a pobre da mãe dela! ah! aquele sinhô velho foi um home judeu mesmo, Deus te perdoe. Agora com Isaura e sinhô Leôncio a coisa vai tomando o mesmo rumo. Juliana era uma mulata bonita e sacudida; era da cor desta Rosa mas inda mais bonita e mais bem feita... Rosa deu um muxoxo, e fez um momo desdenhoso.
- Mas isso mesmo foi a perdição dela, coitada! - continuou a crioula velha. - O ponto foi sinhô velho gostar dela... eu já contei a vocês o que é que aconteceu. Juliana era uma rapariga de brio, e por isso teve de penar, até morrer. Nesse tempo o feitor era esse siô Miguel, que anda aí, e que é pai de Isaura. Isso é que era feitor bom!... todo mundo queria ele bem, e tudo andava direito. Mas esse siô Francisco, que ai anda agora, cruz nele!... é a pior peste que tem botado os pés nesta casa. Mas, como ia dizendo, o siô Miguel gostava muito de Juliana, e trabalhou, trabalhou até ajuntar dinheiro para forrar ela.