- E ficaste nisso, Álvaro! - perguntava outro cavalheiro; - o teu romance está-nos interessando; vamos por diante, que estou aflito por ver a peripécia...
- A peripécia?.., oh! essa ainda não chegou, e nem eu mesmo sei qual será. Esgotei enfim os estratagemas possíveis para ter entrada no santuário daquela deusa; mas foi tudo baldado. O acaso enfim veio em meu socorro, e serviu-me melhor do que toda a minha habilidade e diligência. Passeando eu uma tarde de carro no bairro de Santo Antônio, pelas margens do Beberibe, passeio que se tornara para mim uma devoção, avistei um homem e uma mulher navegando a todo pano em um pequeno bote. Instantes depois o bote achou-se encalhado em um banco de areia. Apeei-me imediatamente, e tomando um escaler na praia, fui em socorro dos dois navegantes que em vão forcejavam por safar a pequena embarcação. Não podem fazer ideia da deliciosa surpresa que senti, ao reconhecer nas duas pessoas do bote a minha misteriosa da chácara e seu pai...
- Por essa já eu esperava; entretanto o lance não deixa de ser dramático; a história de seus amores com a tal fada misteriosa vai tomando visos de um poema fantástico.
- Entretanto, é a pura realidade. Como estavam molhados e enxovalhados, convidei-os a entrarem no meu carro. Aceitaram depois de muita relutância, e dirigimo-nos para a casa deles. É escusado contar-vos o resto desde então, se bem que com algum acanhamento foi-me franqueado o umbral da gruta misteriosa.
- E pelo que vejo, - interrogou o doutor, - amas muito essa mulher?
- Se amo! adoro-a cada vez mais, e o que é mais, tenho razões para acreditar que ela... pelo menos não me olha com indiferença.