- Deus queira que não andes embaído por alguma Circe de bordel, por alguma dessas aventureiras, de que há tantas pelo mundo, e que, sabendo que és rico, arma laços ao teu dinheiro! Esse afastamento da sociedade, esse mistério, em que procuram tão cuidadosamente envolver a sua vida, não abonam muito em favor deles.
- Quem sabe se são criminosos que procuram subtrair-se às pesquisas da polícia? - observou um cavalheiro.
- Talvez moedeiros falsos, - acrescentou outro.
- Tenho má-fé, - continuou o doutor - todas as vezes que vejo uma mulher bonita viajando em países estranhos em companhia de um homem, que de ordinário se diz pai ou irmão dela. O pai de tua fada, Álvaro, se é que é pai, é talvez algum cigano, ou cavalheiro de indústria, que especula com a formosura de sua filha.
- Santo Deus!... misericórdia! - exclamou Álvaro. - Se eu adivinhasse que veria a pessoa daquela criatura angélica apreciada com tanta atrocidade, ou antes tão impiamente profanada, quereria antes ser atacado de mudez, do que trazê-la à conversação. Creiam, que são demasiado injustos para com aquela pobre moça, meus amigos. Eu a julgaria antes uma princesa destronizada, se não soubesse que é um anjo do céu. Mas vocês em breve vão vê-la, e eu e ela estaremos vingados; pois estou certo que todos a uma voz a proclamarão uma divindade. Mas o pior é que desde já posso contar com um rival em cada um de vocês.
- Por minha parte, disse um dos cavalheiros, - pode ficar tranquilo, pois sempre tive horror às moças misteriosas.
- E eu, que não sou mais do que um simples mortal, tenho muito medo de fadas, - acrescentou o outro.
- E como é, - perguntou o Dr. Geraldo, - que vivendo ela assim arredada da sociedade, pôde resolver-se a deixar a sua misteriosa solidão, para vir a este baile tão público e concorrido?...