- E quanto não me custou isso, meu amigo! - respondeu Álvaro. - Veio quase violentada. Há muito tempo que procuro convencê-la por todos os modos, que uma senhora jovem e formosa, como é ela, escondendo seus encantos na solidão, comete um crime, contrário às vistas do Criador, que formou a beleza para ser vista, admirada e adorada; pois sou o contrário desses amantes ciumentos e atrabiliários, que desejariam ter suas amadas escondidas no âmago da terra. Argumentos, instâncias, súplicas, tudo foi perdido; pai e filha recusavam-se constantemente a aparecerem em público, alegando mil diversos pretextos. Vali-me por fim de um ardil; fiz-lhes acreditar que aquele modo de viver retraído e sem contato com a sociedade em um país, onde eram desconhecidos, já começava a dar que falar ao público e a atrair suspeitas sobre eles, e que até a polícia começava a olhá-los com desconfiança: mentiras, que não deixavam de ter sua plausibilidade...
- E tanta, - interrompeu o doutor. - que talvez não andem muito longe da verdade.
- Fiz-lhes ver, - continuou Álvaro, - que por infundadas e fúteis que fossem tais suspeitas, era necessário arredá-las de si, e para isso cumpria-lhes absolutamente frequentar a sociedade. Este embuste produziu o desejado efeito.
- Tanto pior para eles, - retorquiu o doutor; - eis aí um indício bem mau, e que mais me confirma em minhas desconfianças. Fossem eles inocentes, e bem pouco se importariam com as suspeitas do público ou da polícia, e continuariam a viver como dantes.
- Tuas suspeitas não têm o menor fundamento, meu doutor. Eles têm poucos meios, e por isso evitam a sociedade, que realmente, impõe duros sacrifícios às pessoas desfavorecidas da fortuna, e eles... mas ei-los, que chegam... Vejam e convençam-se com seus próprios olhos.