- Meu pai, - disse ela resolutamente apenas Álvaro transpôs o portão do pequeno jardim, - declaro-lhe que não vou a esse baile; não quero, nem devo por forma nenhuma lá me apresentar.
- Não vais?! - exclamou Miguel atônito. - E por que não disseste isto há mais tempo, quando o senhor Álvaro ainda aqui se achava? agora que já demos nossa palavra...
- Para tudo há remédio, meu pai, - atalhou a filha com febril vivacidade - e para este caso ele é bem simples. Vá meu pai depressa à casa desse moço, e diga-lhe o que eu não tive ânimo de dizer-lhe; declare-lhe quem eu sou, e está tudo acabado.
Dizendo isto, Isaura estava pálida, falava com precipitação, os lábios descarados lhe tremiam, e as palavras, proferidas com voz convulsa e estridente, parecia que lhe eram arrancadas a custo do coração. Era o resultado do extremo esforço que fazia, para levar a efeito tão penível resolução. O pai olhava para ela com assombro e consternação.
- Que estás a dizer, minha filha! - replicou-lhe ele - estás tão pálida e alterada!.. parece-me que tens febre... sofres alguma coisa?
- Nada sofro, meu pai; não se inquiete pela minha saúde. O que eu estou-lhe dizendo é que é absolutamente necessário que meu pai vá procurar esse moço e confessar-lhe tudo...
- Isso nunca!... estás louca, menina?... queres que eu te veja encerrada em uma cadeia, conduzida em ferros para a tua província, entregue a teu senhor, e por fim ver-te morrer entre tormentos nas garras daquele monstro! oh! Isaura, por quem és, não me fales mais nisso, Enquanto o sangue me girar nestas veias, enquanto me restar o mais pequenino recurso, hei de lançar mão dele para te salvar...