– Que é isso, rapariga? – perguntou o pai.
– Não lhe perguntes nada, João, que ela está com Deus – respondeu Luís. O vigário, apalpando-lhe as mãos e o rosto, confirmou:
– Está coberta de suor frio. Que foi isto? – ajuntou ele, voltando-se para o João da Laje – Você há-de saber pouco mais ou menos por que esta boa rapariga se deitou a afogar!
– Eu não sei – respondeu o pai com a serenidade de um estranho narrador. – Ela estava doente há mais de mês e meio; mandei chamar o boticário de Friúme; ele receitou-lhe não sei que barzabum de xaropadas que a rapariga nem p’ra trás nem p’ra diante. Ora vai hoje ali pela sesta fui achar a minha Maria a chorar, mas nada me disse. Depois, fui regar um campo de milho, e, quando tornei a casa à noite e perguntei por minha mulher, soube que ela estava ainda no palheiro. Fui-me onde a ela, perguntei-lhe o que tinha, e ela já me não respondeu, porque estava sem acordo; peguei nela e deitei-a na cama; e agora, quando lá chegou o rapaz com a notícia, ia eu mandar chamar o barbeiro das Vendas Novas a ver se ma sangrava.
Nesta conjuntura, voltaram-se todos para um dos campos por onde vinha correndo a mãe da morta, chamando a filha em grandes brados.
Os archotes erguidos ao alto alargaram a penumbra e condensaram mais a treva por onde o vulto da mulher vinha crescendo com as mãos na cabeça. A Brites aconchegava-se do vigário a fim de, no caso de intervenção diabólica, se encostar à coluna da Igreja. Luís meditava nas revelações do lavrador, e João esperava quieto, silencioso e estúpido a chegada da mulher.