– Você conhecia esta rapariga, padre Bento? – perguntou o funcionário ao minorista.
– Vi-a uma vez na romaria de S. Bartolomeu, fez um ano a 24 de Agosto. Assisti-lhe aos exorcismos na capela do santo.
– Ah! conte-me isso... ela tinha demónio no corpo? Note você, padre Bento, que os espíritos maus quase sempre se ferram nos bons corpos!
O tonsurado entreabriu um sorriso de forçada complacência, e não deu azo a que o espírito forte abrisse a válvula dos sarcasmos, por causa dos quais havia sido expulso de um convento graciano onde noviciava, e também porque sabia francês, e lia O Citador de Pigault Lebrun, e chamava à carniceria da Revolução Francesa a grande operação da catarata social. Dizia coisas como os socialistas de hoje, que estão a chocar o ovo de uma coisa pior, que há-de ser os socialistas de amanhã.
– Bonita era ela... – concordou o estudante de teologia dogmática; e, movendo pausadamente a cabeça como quem confirma uma recordação dolorosa, acrescentou: – Bem sei eu quem foi a causa deste suicídio...
– Sabe? E está calado com isso...
– Estou, e... estarei – respondeu discretamente.
– Já sei quem foi a causa de se suicidar a Josefa – acudiu o escrivão.
– Sabe?... Então quem foi?!