– Padre, eu não o percebo. Quer dizer que eles se amavam honestamente? Diga isto assim pelo claro, que eu acredito tudo quanto há virginalmente extraordinário em um cadete de cavalaria de Chaves.
– Digo o que sei e presumo sempre o melhor quando não tenho provas do pior. E, quando as tenho, calo-me. O que afirmo é que o morgado de Cimo de Vila, chegando há dois meses de férias de Coimbra, onde estuda matemática, pediu ao vigário de Santa Marinha que o casasse com Josefa de Santo Aleixo. O vigário recusou-se e avisou Cristóvão de Queirós, pai do cadete. O fidalgo saiu, como o senhor sabe, com o filho para a capital; e lá, como o cadete quisesse fugir-lhe, ou mesmo recusasse obedecer-lhe, meteu-o no Limoeiro. Entretanto, Josefa suicida-se. Agora, seja qual for a causa que levou esta mulher morta à desesperação, a caridade o que aí vê é uma desgraça, e a religião chora uma alma condenada.
– Adivinhei o que o padre não sabe...
– Nem quero saber – acudiu o minorista; e retirou-se, agitando rapidamente ambas as mãos com gestos negativos.
A nossa curiosidade, nesta época de escalpelo, vai além dos limites que o teólogo abalizou à sua. Desenterre-se o cadáver, e venha para o anfiteatro anatómico.