– Vossemecê não é a Rosária, a mulher do Manuel Tocha, caseiro do senhor sargento-mor da Temporã? – perguntou João, enfitando-se nela.
– Sou, sim senhor.
– Valha-a o demo! Custou-me a conhecê-la! Você vem assim a modo de quem anda a pedir p’ra uma missa! Se quer beber, entre cá. Você parece esmaleitada, mulher!
– Deus lhe dê saúde; agora não é preciso. Vou cá dentro conversar com a sua companheira à conta dumas meadas.
– Meadas? Vocês lá as arranjam... – disse ironicamente João, ao que a mulher retorquiu:
– Vai-te deitar.
Ele não se ofendeu, porque, em verdade, foi-se deitar, como quase sempre ia, nos fenos do palheiro, onde tinha visões como nunca tiveram os narcotizados califas de Damasco, ressupinos em almofadas da Pérsia...
Entretanto, a mulher de Manuel Tocha revelava à mãe de Josefa que a sua filha estava doente de morte, se lhe não acudissem...
– Tenho-lhe posto cataprasma de orjavão e semprónia, há quatro meses a eito todas as noites – atalhou Maria da Laje.
– Isso não lhe faz nada, é o mesmo que pô-las na barriga daquela cadela – e apontava para uma perdigueira que uivava, ouvindo tocar ao longe uma requinta.