Entretanto, João da Laje, entrando à cozinha para jantar e não vendo ninguém, foi bater à porta da filha.
– Que é de tua mãe, rapariga? – perguntou de fora, porque a língua da chave estava corrida.
– Não está aqui, senhor pai.
– Hoje não se come? Cá vou ver o que está na panela: quando ela vier, diz-lhe que eu cá m’arranjei.
E, de feito, extraindo do pote um naco do toucinho com que fez uma enorme e pingue sanduíche entre duas talhadas de broa, foi para a adega, sentou-se ao pé da cuba e murmurou: "Aguenta-te, João, que tua mãe não faz outro."
Este homem tinha em si algumas faíscas do génio de Diógenes, um tudo-nada do espírito de Epicuro, e o mais era espírito de vinho. Viveu assim largos anos, reformando-se sempre para pior, e morreu aos 80, como lá dizem, coberto de musgo, que era sarro interior que lhe porejava na casca. Com alguma sentimentalidade no coração e frugalidade no estômago, morreria na flor dos anos.