– Que tens, mulher? – bradava a mãe, seguindo-a espavorida naqueles trejeitos frenéticos. – Dói-te alguma coisa?
– Tenho uma dor muito grande... muito grande...
E, como se levasse as mãos aos quadris no ímpeto da dor aguda, a mãe quedou-se como estupefacta a olhar para ela. Neste instante fez-se-lhe luz na alma a um clarão infernal. Aqueles gritos e contorções recordaram-lhe que havia sido mãe: viu, como nunca vira, os sinais exteriores do crime nem sonhado; os modos suplicantes da filha confessavam o crime.
Fez-se uma desfiguração improvisa e medonha nas feições de Maria da Laje, quando, crescendo para a filha, com as mãos fincadas nas fontes, bramiu:
– Tu que tens? Tu que fizeste, amaldiçoada?
Josefa ajoelhou-se com as mãos no rosto lavado em lágrimas, e murmurou:
– Deixe-me chorar, minha mãe, que eu à noite vou-me embora.
– Vais-te embora, malvada? Então pra onde vais tu? Morta te veja eu antes de à noite! Pra onde queres tu ir? Quem foi que te botou a perder? Respondes, mulher perdida? Olha que se me gritas de modo que alguém oiça, dou-te com o olho de uma enxada na cabeça! Pois tu! Pois tu!... Ai que eu endoideço! ai que eu endoideço!...
E, com as mãos na cabeça, partiu a fugir escada abaixo, e foi sumir-se no palheiro, dando gritos com a cabeça, metida no feno para os abafar.