Maria Moisés - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 48 / 86

– Maria, já se vê – respondeu D. Tibúrcia. – A mana é Maria.

– Bem sei, minha senhora; mas há-de acrescentar-se-lhe um sobrenome indicativo da circunstância em que foi encontrada, num berço sobre o rio. Muito bem sabe o senhor desembargador o que a Bíblia refere. O ímpio faraó mandara matar as crianças do sexo masculino, dizendo: “Lançai ao rio todo o que nascer macho, e não reserveis senão as fêmeas.”

– Sim – conveio o desembargador – vai o cónego contar-nos o caso de Moisés.

– Justamente, Moisés foi achado no rio, e vinha à flor da corrente deitado num berço. Parecia-me, portanto, que a menina se chamasse Maria Moisés, em comemoração de tão estranho sucesso.

– E por que não há-de chamar-se Maria Ábidis? – perguntou o doutor.

– Ábidis?! – disse o padre, invocando a memória. – Que é isso de Ábidis?!

– É um caso semelhante da história portuguesa, senhor cónego. Leia, leia o meu Bernardo de Brito. Não lhe tenho eu dito cem mil vezes que a nossa história é um tesouro de ricos acontecimentos aplicáveis filosoficamente a tudo quanto há mais extraordinário?! Eu lhe conto de memória: e, se ela me falhar, irei buscar o tomo I da Monarquia Lusitana que é livro que nunca me larga. – E tomando do esturrinho de D. Tibúrcia, continuou com ênfase: – Górgoris, rei da Lusitânia, no ano 2806 da criação do mundo, foi o inventor do mel.





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