– Então qual é madrinha? – perguntou o padre.
– Pode ser a mana Filipa – disse a outra.
– Serão vossas senhorias ambas, porque madrinhas têm lugar de mães, ou mãezinhas, que é o diminutivo de madres, mães.
– Matercula, de mater – acrescentou conspicuamente o doutor.
– Isso – confirmou o cónego, enquanto as duas irmãs estavam a ver se percebiam o modo como eram mães por um figurado esforço de latinidade.
– E na qualidade de mães substitutas que o sacramento lhes confere, visto que a recém-nascida não tem mãe conhecida, tem de ficar a criança a cargo de seus padrinhos, pois que o Francisco Bragadas tem onze filhos... – acrescentou o cónego.
– Serão doze – atalhou o agricultor – mas, se vossas senhorias tomarem conta da enjeitadinha, boa esmola lhe fazem.
– Sim, Francisco – disse o desembargador –, tomaremos conta da enjeitada. Amanhã iremos a S. Salvador baptizá-la.
O caseiro saiu alegre, a pensar que Deus lhe olharia pelos seus pequenos, em paga de ele acudir àquela criança que, depois de baptizada, se morresse, já teria asas que a levantassem até ao paraíso. Ele não era teólogo, nem conhecia o limbo.
– Como há-de ela chamar-se? – perguntou o cónego.