Ao fundo da viela, que desembocava no rio, havia dois portelos, um à direita para uma várzea de milho espigado com grande folhagem, outro à esquerda para um panascal que entestava com a corrente do Tâmega. Saía então do rio para a cangosta um grande vulto alvacento chofrando na água com pernadas longas e mesura- das. O rapaz expediu um ai rouco e, agarrando-se aos suspensórios de couro do moleiro, gritou:
– Ó tio Luís, ó tio Luís!...
– Que é? – Vossemecê não vê?
– Vejo, pedaço de asno, vejo; é a alma do capitão-mor que anda a pescar bogas com chumbeira... Não vês que é um homem em fralda? Abre esses olhos, bruto!
Era o caseiro da quinta de Santa Eulália, que vinha batendo com a chumbeira as angras do rio por onde o escalo costumava acardumar-se.
– És tu, ó Francisco Bragadas? – perguntou o moleiro.
– Sou.
– Ouviste por’í berrar uma cabra?
– Há pedaço, berrava ali no bravio do Pimenta; mas já depois a ouvia lá p’ra baixo na Ínsua.
– O peixe cai? Dá cá duas bogas para eu cear.