Durante todo este tempo ele não deixara de insistir com minha mãe para que tentasse descobrir o significado da terrível expressão que eu usara, como dizia, e que já mencionei atrás, ou seja, que não era uma esposa legítima nem os meus filhos seus filhos legítimos. A minha mãe entretinha-o, dizia-lhe que não conseguia arrancar-me quaisquer explicações, mas que pressentia haver qualquer coisa que me perturbava muito e que esperava descobrir com o tempo. Entretanto recomendava-lhe que me tratasse com mais ternura e me reconquistasse com o seu bom comportamento habitual, censurando-lhe o susto que me metera com a ameaça de me internar num manicómio e aconselhando-o a não me levar ao desespero, fosse por que motivo fosse.
O meu marido prometeu-lhe adoçar o seu procedimento e rogou-lhe me comunicasse que continuava a amar-me como sempre e não pensava internar-me em nenhum manicómio, dissesse ele o que dissesse na cegueira da sua cólera. Desejava que minha mãe usasse comigo as mesmas palavras persuasivas que usava com ele, pois o nosso afecto poderia reatar-se e voltarmos a viver em boa paz, como antes.
De facto, não tardei a notar que a conduta do meu marido se transformara e que ele me tratava de maneira inteiramente diferente; ninguém poderia ser mais bondoso nem mais terno do que ele era para mim, em todas as ocasiões, e o menos que eu podia fazer era retribuir-lhe, em certa medida. Por isso me esforcei o melhor que pude, embora desajeitadamente, pois nada temia mais que as suas carícias e a simples ideia de conceber de novo um filho seu quase me enlouquecia. Tudo me dizia ser absoluta a necessidade de lhe revelar sem mais delongas a verdade, o que fiz, contudo, com a maior cautela e reserva possível.
Continuou a portar-se de maneira diferente comigo durante cerca de um mês e começámos a viver uma vida nova, e, se eu tivesse a certeza de que teria coragem para resistir, continuaríamos assim enquanto vivêssemos.
