Suspirei e afirmei-lhe que ninguém podia sentir mais prazer com o nosso bom entendimento nem mais angústia com a nossa desarmonia que eu, mas que lamentava dizer-lhe que existiam circunstâncias tristes no nosso caso, circunstâncias demasiado chegadas ao meu coração e que não sabia como revelar-lhas, embora me tornassem infeliz e me roubassem todo o repouso e tranquilidade.
Rogou-me que lhe dissesse o que era e eu respondi-lhe que não sabia como fazê-lo, pois, enquanto o ignorasse, só eu seria infeliz, mas que, se ele o soubesse, sê-lo-íamos ambos. Portanto, o mais caridoso, para com ele, seria mantê-lo na ignorância, e era por isso, e por isso apenas, que guardava um segredo que podia ser a minha desgraça.
É impossível descrever a sua surpresa perante as minhas palavras e a redobrada insistência com que me pediu lhe dissesse tudo. Afirmou-me que não podia considerar-me generosa nem leal para com ele se lhe ocultasse o que me atormentava e eu respondi-lhe que pensava da mesma maneira, mas que, mesmo assim, nada podia contar-lhe. Voltou então ao que lhe dissera antes e declarou esperar que o segredo não se relacionasse com as palavras proferidas num momento de cólera e que ele resolvera esquecer, atribuindo-as à ira de um espírito exasperado. Volvi-lhe que desejaria esquecer tudo também, mas que, por meu mal, era impossível, pois se tratava de ferida demasiado profunda.