Era este o meu plano, baseado em boas razões. Os acontecimentos tinham-me afastado dele, odiava-o mortalmente como marido e era-me impossível arrancar do peito a aversão que me inspirava. Ao mesmo tempo, o facto de a nossa vida ser ilegal e incestuosa aumentava essa aversão e, embora a consciência me não atormentasse muito a esse respeito, tudo se conjugava para que a minha coabitação com ele fosse, para mim, a coisa mais nojenta do mundo. Chegara a tal extremo que, creio, quase preferi- ria abraçar um cão a aceitar as suas carícias e não tolerava o pensamento de me encontrar entre lençóis com ele.
Não digo que procedesse bem deixando as coisas atingirem tais proporções sem lhe revelar a verdade, mas estou a narrar o que aconteceu, e não o que devia ou não devia ter feito.
Eu e minha mãe continuámos durante muito tempo a ter opiniões inteiramente diferentes e impossíveis de reconciliar e travámos, várias discussões sobre o assunto, mas nenhuma cedeu nem chegou a acordo com a outra.
Eu insistia na minha repugnância em me deitar com o meu próprio irmão, ela teimava na impossibilidade de o convencer a deixar-me regressar a Inglaterra. Continuámos nesta indecisão, sem nos zangarmos, é certo, mas também sem decidirmos o que devíamos fazer para vencer o abismo que se abria à nossa frente.
Por fim resolvi dar um passo desesperado e comuniquei a minha mãe a resolução tomada: eu própria diria tudo a meu marido. Ficou aterrorizada só de pensar nas consequências, mas recomendei-lhe que se acalmas- se e prometi-lhe proceder gradual e suavemente, com toda a astúcia e suavidade de que fosse capaz e tentando, ao mesmo tempo, apanhá-lo bem disposto. Acrescentei que, se conseguisse levar a hipocrisia ao extremo de fingir ter por ele mais afecto do que na realidade tinha, seria bem sucedida nos meus intentos e separar-nos-íamos por mútuo consentimento e sem ressentimento, pois sentia-me capaz de o amar como irmão, embora não pudesse amá-lo como marido.
