Ficou um pouco intrigado e escreveu as palavras vagarosamente, lendo- -as e relendo-as antes de as assinar, hesitando várias vezes e repetindo-as em voz alta:
- Prejuízo da minha mãe! Teu prejuízo! Que mistério será esse?- Mas, por fim, assinou.
- Bem, meu querido, não te pedirei mais promessas, mas, como vais ouvir a coisa mais inesperada e surpreendente que jamais aconteceu a qual- quer família do mundo, rogo-te que me ouças com a compostura e a presença de espírito próprias de um homem razoável.
- Farei o possível, desde que não me mantenhas mais na expectativa; aterrorizas-me com tantos preliminares.
- Pois seja, querido, trata-se do seguinte: disse-te uma vez, numa fúria, que não era tua mulher legítima nem os nossos filhos, filhos legítimos, e digo-te agora, com calma e serenidade, mas com a maior angústia, que sou tua irmã e tu meu irmão, filhos ambos da nossa mãe, que vive connosco nesta casa e está convencida da verdade de uma maneira impossível de contradizer ou de negar.
Vi-o empalidecer e a sua expressão tornar-se violenta e recomendei:
- Lembra-te da tua promessa e tenta conservar a presença de espírito. Quem melhor te poderia ter preparado do que eu te preparei?
No entanto, chamei uma criada e mandei servir-lhe um cálice de rum, que é a bebida usual daquela região, pois via-o desfalecer. Quando se refez um pouco, achei por bem dizer-lhe o seguinte:
- Esta história requer uma longa explicação e, por isso, tem paciência e prepara o teu espírito para a ouvires, pois serei o mais concisa possível. - Contei-lhe depois o que me pareceu indispensável e, sobretudo, como minha mãe me revelara, sem saber, a verdade, como atrás relatei, acrescentando: - Agora verás, meu querido, que havia um motivo forte para o meu procedimento, que não fui, nem podia ter sido, a causa desta tragédia e que, antes, nada sabia.