Afirmou-me então que decidira não me contrariar em nada e que, por isso, me não importunaria mais a tal respeito, resolvido a aquiescer com tudo quanto eu fizesse ou dissesse; só me pedia que, fosse qual fosse o meu segredo, não permitisse que voltasse a perturbar a nossa tranquilidade e a nossa mútua compreensão.
Não me podia ter dito nada mais irritante, pois na verdade desejava a sua insistência, para ter ensejo de lhe confessar o que me sufocava e que ocultava há tanto tempo. Respondi-lhe francamente não poder dizer que me agradasse não ser importunada a tal respeito, embora não soubesse como fazer-lhe a vontade e contar-lhe tudo.
- Mas diz-me, querido - continuei -, que condições me proporias para que te desvendasse o mistério?
-Todas as condições razoáveis que desejasses de mim - respondeu-me.
- Promete-me então que, se não verificares que estou em falta ou voluntariamente relacionada com as causas da desventura que nos espera, me não censurarás nem ofenderás, me não maltratarás nem responsabilizarás por aquilo de que não tenho culpa.
- Acho justíssima a condição, pois é justíssimo não te culpar daquilo em que não tens responsabilidade - respondeu-me. - Dá-me uma caneta e tinta.
Corri a buscar caneta, tinta e papel e ele escreveu a condição que lhe impusera, usando exactamente as minhas palavras, e assinou por baixo.
- Que mais desejas, minha querida? - perguntou-me, por fim.
- A seguir desejo que não me censures por não te revelar o segredo antes de o conhecer.
- Concedido de todo o coração, pois é justo - redarguiu, escrevendo a condição e assinando-a também.
- Exijo só mais uma condição, querido, que é a seguinte: como o assunto só a nós dois diz respeito, não o revelarás a ninguém, excepto à tua própria mãe, e em todas as decisões que tomares, como o interesse é tanto meu como teu e estou tão inocente como tu, não te deixarás guiar pela paixão e nada farás em meu prejuízo ou da tua mãe sem meu conhecimento e consentimento.