Instalavam-se frequentemente em sua casa pessoas de importância, entre elas o cavalheiro que, como atrás disse, me escolhera para sua companheira no Inverno anterior, o qual chegou com outro cavalheiro e dois criados. Desconfiei de que a minha hospedeira o convidara, informando-o de que ainda lá me encontrava, mas ela negou-o com muita firmeza, assim como ele.
Em resumo, este cavalheiro instalou-se lá em casa e continuou a distinguir-me como sua confidente e interlocutora. Devo confessar que era um perfeito cavalheiro e que a sua companhia me causava muito agrado, assim como, a acreditar nas suas palavras, a minha lhe causava a ele. Nunca me confessou mais que um extraordinário respeito e tão elevada era a sua opinião da minha virtude, que, muitas vezes mo disse, tinha a certeza de que o repudiaria com desprezo se outros sentimentos me confessasse. Não tardou a saber, da minha boca, que eu era viúva, chegara a Brístol no último barco que viera da Virgínia e aguardava em Bath a vinda dos próximos barcos da mesma proveniência, pelos quais esperava consideráveis valores. Soube por ele, e por outros, que era casado, mas que a esposa sofria de doença mental e estava entregue aos cuidados da sua própria família, no que ele consentira para evitar que o acusassem (o que não era raro em tais circunstâncias) de descurar o seu tratamento. Entretanto, ia para Bath a fim de afastar do pensamento a melancolia de tão tristes circunstâncias.
A minha hospedeira, que, por sua iniciativa, encorajava as nossas relações sempre que para isso tinha ensejo, descreveu-mo em termos muito elogiosos, afirmando tratar-se de homem de honra e de virtude, assim como de grande fortuna. E eu tinha, de facto, bons motivos para tal pensar a seu respeito, pois, embora vivêssemos no mesmo andar e ele entrasse frequentemente no meu quarto, mesmo quando eu estava deitada, e eu entrasse no seu quando ele estava deitado, nunca me deu mais que um beijo nem solicitou fosse o que fosse até muito tempo depois, como adiante vereis.