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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 131
Por fim afirmei que tinha de escrever ao meu irmão e receber resposta sua antes de assinar.

Com o valor dessas mercadorias, e antes de obter as últimas cinquenta libras do meu cavalheiro, os meus bens atingiam quatrocentas libras, ou seja, quatrocentas e cinquenta com as referidas cinquenta. Poupara mais cerca de cem libras, mas com essas acontecera-me o seguinte infortúnio: confiara-as a um ourives, este falira e eu perdera setenta libras, pois o activo do homem mal perfazia trinta por cento do seu passivo. Possuía também alguma prata, mas não muita, e estava bem fornecida de roupas.

Tinha de começar vida nova com apenas esse capital. Lembrai-vos ainda de que não era já a mesma mulher que vivera em Redriff, pois tinha quase vinte anos mais e não iludia ninguém a respeito da minha idade, sobretudo devido à minha ida e vinda da Virgínia. Embora não omitisse nenhum artifício susceptível de me valorizar - excepto a pintura, pois a isso nunca desci e sempre me orgulhei de pensar que não precisava dela - há, inevitavelmente alguma diferença entre 25 e 42 anos.

Imaginei inúmeros modos de vida futura e comecei a considerar muito a sério o que devia fazer, mas não surgiu nada que valesse a pena. Claro que tive o cuidado de fazer constar que valia mais do que realmente valia, que tinha fortuna e que os meus bens estavam nas minhas mãos, o que era verdade só na última parte. Um dos meus infortúnios residia em não conhecer ninguém, do que resultava não ter nenhum conselheiro - pelo menos nenhum que aconselhasse e ajudasse simultaneamente - e, sobretudo, ninguém a quem pudesse confiar o segredo da minha verdadeira situação sem receio de inconfidência ou deslealdade. A experiência ensinara-me que o pior que podia acontecer a uma mulher, a seguir à pobreza, era não ter amigos - e digo a uma mulher por ser evidente que os homens podem ser os seus próprios conselheiros e orientadores e sabem sair de apuros melhor que nós; se uma mulher não tem amigos a quem fale dos seus negócios e que a aconselhem e auxiliem, as probabilidades de estar perdida são de dez contra uma e quanto mais dinheiro tiver maior será o perigo de ser enganada e iludida (foi o que me aconteceu, por exemplo, no caso do ourives, a quem, como atrás contei, confiei cem libras; ao que parece, o seu crédito já era periclitante, mas eu não percebia nada de tais coisas, não tinha ninguém que me aconselhasse e perdi o meu dinheiro).

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
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Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7