Assinei como prometera e, com muita mágoa, encerrei assim o assunto.
Não posso deixar de salientar agora as tristes consequências das liberdades excessivas entre duas pessoas nas nossas condições, sob pretexto de intuitos inocentes, amor, amizade ou coisa parecida. A carne tem, regra geral, papel tão preponderante nessas amizades que quase sempre os desejos vencem as mais solenes resoluções e o vício se insinua pelas fendas abertas na decência, que as amizades realmente sinceras devem defender a todo o custo. Mas deixo aos leitores o cuidado de se entregarem às suas próprias reflexões, por certo mais eficazes que as minhas, pois que depressa esqueço os meus bons propósitos e sou, por isso, fraca conselheira.
Estava de novo solteira, se assim posso dizer, liberta de todas as obrigações matrimoniais ou de mancebia - excepto no que dizia respeito ao meu marido fanqueiro, do qual, por não ter notícias suas ia para quinze anos, ninguém podia censurar-me que me considerasse inteiramente livre, tanto mais que, à partida, me dissera que, se não recebesse novas frequentes da sua parte, o considerasse morto e casasse com quem me aprouvesse.
Comecei a deitar contas à minha vida. Conseguira, graças a muitas cartas, a muita insistência e à intervenção de minha mãe, um segundo carregamento de mercadorias mandado pelo meu irmão (como agora lhe chamo) para me compensar dos danos sofridos pelo que trouxera comigo, ao partir da Virgínia, mas só na condição de lhe remeter também uma quitação geral, por intermédio do seu agente em Brístol, o que, por muito que me custasse, fui obrigada a prometer. No entanto, procedi com tanta astúcia que logrei apanhar as mercadorias antes de assinar a quitação, e depois encontrei sempre pretextos para me esquivar e adiar a assinatura.
