Dois dias depois partimos de Chester, eu na diligência e ele a cavalo.
Despedi a minha criada, antes de partir, e o meu marido ficou muito contrariado por eu ficar sem serva, mas, como ela fora arranjada na província e eu estava resolvida a não ter criada nenhuma em Londres, disse-lhe que, além de ser cruel levar a pobre rapariga e abandoná-la depois, assim que chegasse à capital, seria também uma despesa inútil na viagem. Convenci-o, assim, sem grande dificuldade.
Acompanhou-me até Dunstable, que fica a cerca de trinta milhas de Londres, e aí disse-me que o destino e os seus infortúnios o obrigavam a deixar-me e que não seria conveniente para si entrar em Londres, por motivos que não tinham qualquer interesse para mim. Preparou-se então para partir. A diligência não costumava parar em Dunstable, mas, como manifestei o desejo de que o fizesse somente durante um quarto de hora, acederam à minha vontade e parou à porta de uma estalagem enquanto nós entrávamos no estabelecimento.
Disse então a meu marido que tinha apenas mais um favor a pedir-lhe, que era o seguinte: que, visto não poder ir mais longe comigo, consentisse em ficarmos uma ou duas semanas juntos naquela cidade, pois talvez nesse espaço de tempo nos ocorresse alguma maneira de evitar decisão tão prejudicial para ambos como seria uma despedida definitiva; acrescentei que tinha uma proposta muito importante a fazer-lhe, da qual nunca lhe falara ainda, e que talvez a achasse vantajosa para ambos.
A proposta era assaz razoável para ser recusada e, portanto, chamou a sua estalajadeira e disse-lhe ter a esposa adoecido de tal maneira que não podia continuar viagem na diligência, que a fatigava muitíssimo, e por isso lhe pedia que, se pudesse, nos arranjasse acomodações numa casa particular, para dois ou três dias, a fim de que eu descansasse um pouco, pois a longa viagem fora de mais para mim.
