Mas as minhas próprias inquietações serenaram esses rebates de consciência e a perspectiva de passar fome, que cada dia se tornava mais assustadora, endureceu-me a pouco e pouco o coração. Doía-me, sobretudo, pensar que me corrigira e que, como supunha, me arrependera de todos os pecados passados; durante vários anos vivera uma vida séria, grave e recatada e, agora, a implacável necessidade da minha situação impeliria de novo para a ruína e para a desgraça a minha alma e o meu corpo. Caí de joelhos, duas ou três vezes, e roguei a Deus, o melhor que pude, que me salvasse, mas confesso que não havia esperança nas minhas súplicas. Não sabia que fazer, vivia num pesadelo de medo e de trevas e receava não me ter arrependido do passado tão sinceramente como supunha e que o Céu começasse a castigar-me ainda em vida e me tornasse tão desgraçada quanto fora pecadora.
Se tivesse continuado a pensar assim, talvez viesse a ser uma penitente sincera, mas tinha dentro de mim um mau conselheiro, que continua- mente me incitava a resolver a situação pelos piores meios.