Por isso, certa tarde, tentou-me de novo com o mesmo ímpeto perverso com que me ordenara «Pega na trouxa!» e levou-me para fora de casa, à procura do que se oferecesse.
Saí ainda com luz do dia e vagueei não sei por onde e em busca não sei de quê, mas o Demónio estendeu no meu caminho uma armadilha tão terrível como nunca encontrara antes nem encontrei depois. Ao passar pela Aldersgate Street vi uma linda menina que estivera na escola de dança e regressava, sozinha a casa, e o meu tentador, como um verdadeiro demónio, tentou-me com ela. Falei-lhe, ela tagarelou comigo, dei-lhe a mão e conduzi-a a uma travessa pavimentada que dá para Bartholomew Close. A pequenita disse não ser aquele o caminho para casa, mas respondi-lhe: «É, sim, minha querida; eu ensino-te o caminho.» A pequenita tinha um fio de contas de ouro que me despertava cobiça e, na escuridão da travessa, inclinei-me, fingindo apertar-lhe um sapato que estava desabotoado, tirei-lhe o fio sem ela dar por isso e continuei a conduzi-la. O Demónio incitou-me então a matar a inocente ao abrigo das trevas, para que ela não chorasse, mas só de pensar nisso quase caí redondamente no chão. Voltei a petiza e disse-lhe que retrocedesse, pois aquele não era de facto o caminho da sua casa; ela obedeceu e eu entrei em Bartholomew Close, virei para outro beco que dá para Long Lane, passei por Charterhouse Yard e cheguei à St. John Street. Aí atravessei para Smithfield, desci a Chick Lane, atravessei a Field Lane e a Holbom Bridge, onde, misturada com a multidão que geralmente por ali passa, não seria possível encontrarem- -me. Assim decorreu a minha segunda surtida.
Os pensamentos provocados por este roubo levaram-me a esquecer os do anterior e os rebates de consciência foram de curta duração.
