É impossível exprimir o horror da minha alma enquanto pratiquei tal acção. Afastei-me sem coragem para correr, quase sem saber como andava, atravessei a rua e virei à primeira esquina que encontrei e que dava, creio, para uma outra que ia ter à Fenchurch Street. Depois atravessei tantas ruas e virei tantas esquinas que nunca percebi por onde andava nem que caminho levava; não sentia o chão debaixo dos pés e quanto mais me afastava do perigo mais depressa andava, até que, fatigada e ofegante, fui obrigada a parar e a sentar-me num banco, junto de uma porta. Comecei então a recuperar a consciência e verifiquei que me encontrava na Thames Street, perto de Billingsgate. Descansei uns momentos e reatei a caminhada, com o sangue em fogo e o coração a bater desabaladamente, como se, de súbito, me tivessem pregado um grande susto. Em resumo, a minha surpresa era ainda tão grande que continuava sem saber aonde ia ou o que fizera.
Fatigada de tanto andar, e tão depressa, comecei a reconsiderar e dirigi-me para casa, aonde cheguei cerca das nove horas da noite.
Não sabia quando a trouxa fora feita nem quando a tinham posto onde a encontrara, mas, ao abri-la, verifiquei que continha um jogo de roupa de parto, muito bom, quase novo e com belas rendas, uma tigela de prata de meio litro, uma canequinha e seis colheres, tudo de prata, mais algumas peças de roupa de cama, um bom avental, três lenços de seda e, na canequinha, embrulhados num papel, dezoito xelins e seis dinheiros.
Enquanto observava estas coisas sentia-me tolhida de medo e num tal terror de espírito, embora me encontrasse em perfeita segurança, que não sei exprimir. Sentei-me e gritei, desesperada: «Senhor, que sou eu agora? Uma ladra! Prender-me-ão e levar-me-ão para Newgate, onde serei julgada e condenada para toda a vida!» Chorei durante muito tempo e, apesar da minha pobreza, tenho a certeza de que, se não fora o medo, teria levado tudo para o lugar de onde o tirara.
