Chegou à porta ao mesmo tempo que eu, apertou-me nos braços e disse, como se a sua vinda fosse casual:
- Ah, Mrs. Betty, está aqui? Melhor, pois desejo mais falar consigo que com elas. - E, sem me soltar dos braços, beijou-me três a quatro vezes.
Debati-me para me libertar, com todas as minhas forças, mas ele não me largou e continuou a beijar-me até quase perder o fôlego. Por fim sentou-se e confessou:
- Minha querida Betty, estou apaixonado por si.
Confesso que as suas palavras me deixaram o sangue a escaldar e me alvoroçaram de tal maneira o coração que ele por certo leu no meu rosto o que eu sentia. Repetiu várias vezes que estava apaixonado por mim e, no peito, o coração dizia-me tão claramente como se falasse que gostava de ouvir aquelas palavras. Todas as vezes que ele dizia: «Estou apaixonado por si», os meus rubores respondiam-lhe: «Quem dera que estivesse, senhor!»
Contudo, nada mais se passou dessa vez; foi apenas uma surpresa, de que não tardei a refazer-me quando me deixou. Teria ficado mais tempo comigo se, ao olhar para a janela, não visse as irmãs saírem do jardim. Despediu-se, voltou a beijar-me, afirmou que falara muito a sério e que teria notícias suas dentro em breve e partiu, deixando-me infinitamente contente, embora surpreendida. Quis a má sorte, porém, que os sentimentos de Mrs. Betty fossem sinceros e os do cavalheiro não.
A partir desse momento a minha cabeça entregou-se a estranhos devaneios e não minto se disser que deixei de ser eu própria. Ouvir um cavalheiro de tanta categoria dizer que estava apaixonado por mim e chamar-me encantadora criatura era uma coisa que me deixava entontecida e que elevava a minha presunção ao mais alto grau. Confesso que a cabeça me transbordava de orgulho, mas, ignorante que era da perversidade dos tempos, não acalentava um só pensamento acerca da minha segurança ou da minha virtude.
