Se o meu jovem senhor o tivesse querido logo à primeira vez, poderia ter tomado comigo todas as liberdades que lhe aprouvessem; mas, felizmente para mim nessa ocasião, não viu vantagem nisso.
Após o primeiro ataque, não tardou a encontrar ensejo para me apanhar de novo só, e quase nas mesmas circunstâncias, embora com mais premeditação da sua parte, que não da minha. Aconteceu assim: as me- ninas tinham ido fazer visitas com a mãe, o irmão mais novo estava fora da cidade e o pai fora para Londres havia uma semana. O cavalheiro observara-me tão bem que sabia onde eu estava, embora eu ignorasse, até, que se encontrava em casa, subiu a escada a correr e, vendo-me a trabalhar, abraçou-me, como fizera antes, e beijou-me durante quase um quarto de hora.
Encontrava-me no quarto da irmã mais nova e, como não estava mais ninguém em casa, além das criadas no andar inferior, mostrou-se talvez mais impetuoso do que antes. Em resumo, começou a mostrar-se deveras ardente comigo. Achou-me, quiçá, um pouco fácil, pois Deus é testemunha que não lhe resisti enquanto se limitou a abraçar-me e a beijar-me; agradava-me tanto que não ousava resistir-lhe.
Todavia, fatigados de tais expansões, sentámo-nos e ele falou durante muito tempo comigo. Confessou-me que estava enfeitiçado por mim, que não descansaria de noite nem de dia enquanto me não dissesse como era grande o amor que me tinha, que, se eu pudesse amá-lo também e fazê-lo feliz, seria a salvação da sua vida e muitas outras coisas bonitas deste género. Pelo meu lado, pouco lhe disse, mas chegou para que percebesse que era uma idiota e que não fazia a mínima ideia do que ele pretendia.
Por fim levantou-se, pegou-me na mão e, aproveitando-se pouco a pouco da sua vantagem, atirou-me para cima da cama e beijou-me violenta- mente; mas, justiça lhe seja feita, limitou-se a beijar-me muito, sem levar mais longe os seus ardores.
