- Como podes afirmá-lo, mana?
- Por que te revoltas a esse ponto por os homens atribuírem tanta importância à fortuna? - perguntou-lhe o mais velho. - A ti, se alguma coisa te falta, não é com certeza fortuna.
- Compreendo-te, mano - respondeu a menina, inteligentemente.
- Pensas que tenho dinheiro e me falta beleza, mas, como nos tempos que correm o primeiro passa bem sem a segunda, levo vantagem às minhas vizinhas.
- Pois sim, mas as tuas vizinhas, como dizes, podem estar em pé de igualdade contigo - advertiu o mais jovem. - A beleza às vezes ajuda a roubar um marido, a despeito do dinheiro, e, quando a criada é mais bonita que a patroa, faz frequentemente bom negócio e anda de carruagem primeiro que ela.
Achei que era altura de me retirar e de os deixar, e assim fiz. Mas não me afastei tanto que não ouvisse o resto da conversa e muitas coisas simpáticas a meu respeito, que muito me envaideceram. Não tardei, porém, a compreender que, embora doces aos meus ouvidos, essas palavras de louvor me prejudicavam no conceito da família, pois a menina e o irmão mais novo desconversaram, ele disse-lhe palavras desagradáveis, por minha causa, e ela não deixou, pela sua conduta futura, de me manifestar o seu ressentimento. Foi injusta comigo, pois jamais me ocorrera o que ela sus- peitava a respeito do irmão mais novo. O mais velho, sim, com a sua maneira distante e desinteressada, dissera, como se brincasse, muitas coisas que cometi a tolice de julgar sinceras e me fizeram acalentar esperanças vãs acerca de algo que, eu devia sabê-lo, nunca fora sua intenção e em que talvez jamais tivesse pensado.
Um dia subiu, a correr, ao quarto onde as irmãs costumavam costurar, como era seu hábito, e chamou-as antes de entrar, como era igualmente costume seu, e eu, que me encontrava só no aposento, vim à porta e in- formei-o:
- As senhoras não estão aqui, senhor, foram para o jardim.
