Geralmente, depois de comprar algumas, denunciava a sua existência, mas nenhuma das minhas descobertas nesse campo deu resultados consideráveis nem que se comparassem ao que acabei de relatar. No entanto, continuava empenhada em trabalhar com segurança e em evitar correr os grandes riscos que os outros corriam e em que todos os dias se desgraçavam.
Tentei, a seguir, apoderar-me do relógio de ouro de uma senhora, no meio da multidão de uma cerimónia religiosa, mas estive em grave perigo de ser apanhada. Agarrei bem o relógio e dei-lhe um grande puxão, como se alguém me tivesse empurrado, mas, como verificasse que não se soltava, larguei-o, de momento, e gritei, como se estivessem a matar-me, que alguém me pisara e que deviam estar ali ladrões, pois haviam-me, ao mesmo tempo, puxado o relógio. E preciso notar que, para estas aventuras, vamos sempre muito bem vestidas; naquela altura usava roupas muito boas e um relógio de ouro, apresentando-me tão elegante como qualquer fidalga.
Mal gritara, outra senhora fez coro ao meu grito de «Ladrão!», acrescentando que alguém tentara tirar-lhe o relógio.
Quando lhe pegara no relógio, encontrava-me junto dela, mas estacara, ao gritar, e, como a multidão a levara para diante, ao ouvir-se o seu grito estava já um pouco à minha frente e, por isso, não suspeitou de mim. A seguir ao seu grito de «Ladrão!» alguém acrescentou: «Esteve aqui outro! Também tentaram roubar esta senhora!»
No mesmo momento, e um pouco mais diante - felizmente para mim! -, repetiram o grito de «Ladrão!» e, de facto, apanharam um jovem em flagrante. Esta coincidência, embora desgraçada para o larápio, foi oportuníssima para mim, não obstante noutras ocasiões ter-me saído bem de ardis semelhantes. Desta vez, porém, não havia dúvida de que se encontrava ali outro ladrão, em cujo encalço a turba correu.