- Oh! Então caiu, de facto, em más mãos! - e perguntou, muito sé- ria: - Onde está ele contuso?
- Na cabeça, numa das mãos e no rosto, pois maltrataram-no de maneira bárbara.
- Pobre senhor! - condoeu-se a minha governanta. - Nesse caso, esperarei que melhore. - E acrescentou: -Espero que não demore muito tempo, pois tenho muito empenho em lhe falar.
A seguir foi ter comigo e contou-me tudo:
- Já sei quem é o seu belo cavalheiro e que bela prenda me saiu- exclamou. - Mas merece compaixão, coitado, pois parece que se encontra num triste estado. Pergunto a mim mesma que diabo você lhe fez para o deixar quase morto...
Olhei-a, transtornada, e repeti:
- Deixei-o quase morto, eu? Deve estar enganada, pois tenho a certeza de que não lhe fiz mal nenhum. Deixei-o bem, apenas bêbado e a dormir a sono alto.
- Lá isso não sei, mas a verdade é que se encontra num triste estado - respondeu-me, e contou-me o que a amiga lhe dissera.
- Nesse caso, caiu em más mãos depois de eu o deixar, pois juro que nada lhe fiz - teimei.
Passados cerca de dez dias, ou mais, a minha governanta voltou a visitar a amiga e a pedir-lhe que a apresentasse ao referido cavalheiro. Entretanto informara-se, por outras vias, e soubera que já andava a pé, embora ainda não saísse, e obteve licença para lhe falar.
Mulher de trato admirável, não precisou de ninguém que a apresentasse e contou a sua história muito melhor do que eu serei capaz de reproduzir, pois, como já disse, possuía o dom da palavra. Disse-lhe que, embora não a conhecesse, o procurava com o único fim de lhe prestar um serviço, como ele próprio verificaria, rogando-lhe, em virtude de os seus desígnios serem puramente amigáveis, prometesse, no caso de não aceitar o que, serviçalmente, tencionava propor-lhe, não lhe levar a mal o ter-se metido onde não era chamada.
