- Que desastre? - apressou-se a perguntar a minha governanta, como se estivesse surpreendida.
- Foi a Hampstead visitar um cavalheiro seu conhecido e, no regresso, assaltaram-no e roubaram-no. Como bebera um pouco, pelo menos é o que se supõe, os patifes agrediram-no e deixaram-no muito doente. - Roubado - exclamou a minha governanta. - E que lhe tiraram?
- Um relógio de ouro, a caixa de rapé do mesmo metal, a bela peruca e o dinheiro que tinha na algibeira e que não devia ser tão pouco como isso, pois Sir... nunca sai sem uma bolsa com bastantes guinéus.
- Ora! - exclamou, trocista, a minha governanta. - Apostava que se embriagou e arranjou uma mulher que lhe apanhou a carteira e o resto e, por isso, contou à mulher que o roubaram. Esse truque é velho; todos os dias as pobres esposas são vítimas de mil manhas semelhantes.
- Oh, vê-se que não conhece Sir...! - exclamou, escandalizada, a amiga. - Não há cavalheiro mais educado e excelente nem pessoa mais grave, séria e recatada em toda a cidade; detesta tais coisas e ninguém que o conheça poderá imaginá-lo capaz delas.
- Bem, bem - replicou a minha governanta -, não tenho nada com isso; se tivesse, garanto-lhe que havia de provar que não me enganei muito. Esses tais homens recatados não são, às vezes, melhores que os outros, conseguem apenas ter melhor reputação ou, se me dá licença, sabem melhor ser hipócritas.
- Não, minha amiga, garanto-lhe que Sir... não é hipócrita, mas sim um cavalheiro honesto e sério, que foi, sem dúvida nenhuma, roubado.
- É possível, é possível- aquiesceu a minha governanta. - Aliás, não tenho nada com isso. Desejo apenas falar-lhe de um assunto de natureza diferente.
- Seja qual for a natureza desse assunto redarguiu-lhe a amiga -, não pode vê-lo por enquanto, pois deixaram-no muito doente e contuso e não está em condições de ser visto.
