As meninas desculparam-se delicadamente, pois esperavam visitas de tarde - o que ele, diga-se de passagem, sabia muito bem.
Mal acabara de lhes falar e de me dar as suas instruções, o criado veio informá-lo de que a carruagem de Sir W... H... parara à porta. Desceu apressadamente a escada e voltou com igual pressa, lamentando-se:
- Ruíram todos os meus planos de divertimento! Ai de mim! Sir W... mandou a sua carruagem buscar-me, pois deseja falar-me acerca de um assunto importante.
Parece que este Sir W... era um cavalheiro que vivia a cerca de três mi- lhas da cidade e a quem ele pedira, na véspera, que lhe emprestasse a carruagem para assunto particular, recomendando-lhe que lha mandasse às três horas.
Pediu imediatamente a sua melhor peruca, o chapéu e a espada, mandou o criado apresentar desculpas à outra família que tencionava visitar - desculpas que lhe permitiram, ao mesmo tempo, descartar-se do lacaio - e aprontou-se para partir na carruagem. Deteve-se, no entanto, para me falar muito a sério do recado de que me encarregara, aproveitando o ensejo para me recomendar baixinho: «Saia assim que puder, minha querida.»
Fiz uma vénia, sem responder, como se tivesse ouvido apenas o que ele dissera em voz alta. Saí cerca de um quarto de hora depois, vestida como estava, mas com um capuz, uma máscara, um leque e um par de luvas na algibeira, para que em casa não tivessem a mínima suspeita quanto ao meu destino. O jovem cavalheiro esperou-me numa azinhaga por onde sabia que eu passaria, depois de ter dito ao cocheiro onde devia conduzir-nos, ou seja a certo lugar chamado Mile End, onde vivia um confidente seu e onde poderíamos, sem receio, cometer as loucuras que nos aprouvessem.
Ao ficarmos sós, começou a falar-me gravemente, a afirmar-me que não me levara ali para me trair, que a sua paixão por mim tal não lhe consentiria, que estava resolvido a desposar-me assim que herdasse os seus bens e que, entretanto, se eu atendesse o seu pedido, me manteria honrosamente.
