Contudo, perante a sua insistência para que falasse, afirmei-lhe que não tinha motivos para duvidar da sinceridade do seu amor por mim, depois de tantos protestos da sua parte, mas... E calei-me, como se quisesse que adivinhasse o resto.
- Mas o quê, minha querida? - perguntou. - Creio adivinhar o que significa esse «mas». «Mas se eu engravido?», não é? Bem, se isso acontecer, tomarei conta de si e da criança também, para que veja que não brinco. Aqui tem, como prova da minha sinceridade - acrescentou, estendendo- -me uma bolsa de seda com cem guinéus. - Dar-lhe-ei uma igual todos os anos, até a desposar.
A vista da bolsa e o ardor da sua proposta fizeram-me corar e empalidecer, deixaram-me muda e ele percebeu-o. Guardei o dinheiro no seio e não lhe resisti mais; deixei-o fazer o que quis e quantas vezes quis, privada da minha virtude e da minha modéstia, nada de valor me restava que me recomendasse às bênçãos de Deus ou ao socorro dos homens.
Mas as coisas não findaram aí. Regressei à cidade, desempenhei-me dos encargos que perante todos me confiara e cheguei a casa antes que pudessem supor que me demorava. Quanto ao meu cavalheiro, demorou-se, como me dissera, até altas horas da noite, e não houve da parte da família qualquer suspeita a meu ou a seu respeito.
Tivemos, depois, frequentes oportunidades para reincidir no nosso de- lito - sobretudo por artifícios dele -, principalmente em casa, quando a mãe e as irmãs iam fazer visitas, ocasiões que nunca deixava escapar. Sabia sempre de antemão quando elas saíam e, depois, apanhava-me a sós e em segurança.