Mas, como o Demónio é um tentador infatigável, encontra sempre ensejo para a maldade que instiga. Assim, certa tarde em que me encontrava no jardim com ele e as suas duas irmãs mais jovens, todos inocentemente alegres, achou maneira de me meter na mão um bilhete no qual me dizia ser seu desejo que, no dia seguinte, saísse com o pretexto ostensivo de lhe ir fazer qualquer recado à cidade, pois vê-lo-ia algures, no caminho.
Para isso, depois do jantar, disse-me gravemente, na presença de todas as irmãs:
- Mrs. Betty; quero pedir-lhe um favor.
- De que se trata? - perguntou-lhe a segunda irmã.
- Bem, mana, se não puderem dispensar Mrs. Betty hoje, qualquer outro dia servirá - redarguiu, muito sério.
Disseram que sim, que podiam dispensar-me, e a irmã que falara pediu desculpa por ter perguntado e afirmou que o fizera sem qualquer intenção. - Mas, mano - interveio a mais velha -, deves dizer a Mrs. Betty do que se trata. Se for alguma coisa particular que não devamos ouvir, podes chamá-la de parte.
- Que queres dizer, mana? - perguntou o cavalheiro, com a mesma gravidade. - Só desejo que ela vá a High Street, a determinada loja...
Puxou então de um peitilho de camisa, contou-lhes uma longa história acerca de duas belas gravatas pelas quais oferecera dinheiro e acrescentou desejar que eu fosse comprar-lhe uma gravata para o peitilho que mostrara, para ver se eles aceitavam o meu dinheiro e me vendiam as que apreçara. Devia oferecer-lhes mais um xelim que ele e regatear o preço. Depois destinou-me ainda mais recados, que me obrigariam a ficar muito tempo fora de casa.
Em seguida contou às irmãs uma história muito complicada de uma visita que ia fazer a uma família que todos conheciam e em casa da qual se encontrariam Fulano e Cicrano, garantiu que se divertiriam muito e convidou-as, formalmente, a irem também.
