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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 289
Salientei ao guarda que não arrombara portas nenhumas nem trouxera nada para fora daquela casa, e quando me conduziram à presença do juiz e afirmei de novo que não cometera nenhum arrombamento para entrar nem trouxera nada para a rua, o magistrado mostrou-se inclinado a mandar soltar-me.

A primeira atrevida que me detivera afirmou, no entanto, que eu ia a sair com as mercadorias, mas que me agarrara e puxara para trás, quando já me encontrava no limiar da porta, e, perante essa afirmação, o juiz mandou-me para Newgate.

Ah, o horrível antro! O sangue gela-me nas veias à simples menção de tal nome, do nome da prisão onde tantos camaradas meus foram encarcerados e de onde partiram para a árvore fatal, onde a minha mãe sofreu tão angustiosamente e onde eu nasci e não esperava outra redenção que não fosse uma morte infamante. Aquele era, em resumo, o lugar que durante tanto tempo esperara por mim e a que com tanto engenho e êxito soubera escapar.

Não me restavam dúvidas de que agora estava perdida. É impossível descrever o terror do meu espírito quando cheguei e vi todos os horrores daquele sinistro lugar; considerei-me perdida e convenci-me de que nada mais me restava do que sair do mundo nas condições mais desonrosas. O barulho atroador, os berros, as pragas, o fedor, a sordidez e todas as coisas horríveis que vi contribuíram para que considerasse aquele antro um símbolo do Inferno e uma espécie de antecâmara do mesmo.

Recriminei-me então por não ter querido saber das muitas advertências que tivera - e a que já aludi -, das instâncias da minha razão, que, consciente das boas circunstâncias em que me encontrava e dos muitos perigos a que escapara, tantas vezes me aconselhara a retirar-me enquanto era tempo. Fechara os ouvidos a tudo, até ao medo, e parecia-me agora que fora empurrada por destino invisível e inevitável para aquele dia de angústia e para a expiação de todos os meus pecados na forca; teria de satisfazer a justiça com o meu próprio sangue, chegadas que fossem, ao mesmo tempo, a última hora da minha vida e a última hora da minha perversidade.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
Página atual: 289

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7