Todos estes pensamentos sinistros me transtornavam o espírito e me enchiam de melancolia e de desespero.
Arrependi-me então sinceramente de toda a minha vida passada, mas esse arrependimento não me trouxe satisfação nem paz, pois, como a mim própria dizia, arrependia-me quando perdera a possibilidade de continuar a pecar. Era como se não lamentasse ter cometido tais crimes nem o facto de serem uma ofensa a Deus e ao meu semelhante, mas, antes, a sorte funesta de ter de ser punida por eles. Era uma penitente não pelo que pecara, mas pelo que sofreria, e isso roubava-me todo o conforto e, até, toda a esperança de contrição sincera.
Não dormi noites e dias a fio depois de me terem levado para aquele terrível lugar e, durante algum tempo, ter-me-ia sentido feliz se morresse ali, embora também não considerasse a morte como devia ser considerada. Na minha imaginação nada podia ser mais horroroso que aquele antro, nada mais odioso que os meus companheiros de infortúnio. Que feliz me sentiria se me houvessem mandado para qualquer outro lugar do mundo em vez de Newgate!
E que triunfo, que gozo o dos desgraçados que ali se encontravam antes de mim! «O quê, Mrs. Flanders, veio finalmente parar a Newgate?!» E, sarcásticos, chamavam-me Mrs. Mary, Mrs. Molly e o detestável Moll Flanders. O Diabo ajudara-me, diziam, a reinar durante tanto tempo, pois havia muitos anos que aguardavam a minha companhia. Mas chegara finalmente, hem? Escarneciam-me, zombavam da minha melancolia, davam-me as boas-vindas ao antro, desejavam-me felicidades, recomendavam-me que tivesse ânimo, que não me deixasse abater, pois as coisas talvez não fossem tão más como receava, etc, Depois mandaram buscar brande e beberam à minha saúde, mas quem teve de pagar fui eu, porque acabara de chegar ao colégio, como diziam, e com certeza tinha dinheiro no bolso, o que não acontecia com eles.
